Os meus sonhos nunca dormem

 

 

A leitura de Ana Coelho produz sensações de encontro com a profundidade da nossa Alma interior. O Ser fala, revela-se, traduz-se na sensação que se manifesta, que se torna passageira e revelada. O oculto deixa de o ser. O que está fechado desfolha-se perante o desabrochar do sentimento.

“ O tacto das palavras” não é apenas uma exaltação de um sentido, ou dos sentidos, mas sim um todo, uma avalanche sentimental, usando o corpo, e a expressão poética, como forma de dádiva.

O tempo é importante, bem como o passar das horas, mesmo que vagas e não permanentes, mesmo que efémeras e que teimam, vagarosas, em passar:

“A felicidade é o estado

Permanente

Dos instantes

Tão vagos

Como vagas são as horas…”

A natureza estabelece presença constante nas suas palavras, sempre produzindo efeitos na sensação pelo prazer, sempre estabelecendo laços, que se formam entre o que lhe vai no interior e o que é produzido exteriormente a si mesma. Ana Coelho faz esta ligação magistralmente, como conhecedora dos mistérios da mesma natureza e dos seus segredos inatos, deixados, secretamente, em qualquer lugar, imersos na escuridão, de uma qualquer floresta virgem.

A noite, maravilhada pelo luar, cravejada de mantos obscurecidos, esboços de luz que se deixam ver e as madrugadas, que acabam com todo este feitiço, são mostradas aos que lêem, para se silenciarem, também eles, perante a descrição:

“O silêncio em réplica

Envolve a voz em ocasos de espera…

O relento da manhã

Sacia toda a sede do corpo mudo…”

Há sempre luz e trevas, escuridão e a brancura do sentimento. Uma antítese que ela revela tão bem e que é explorada até à exaustão. A luz trás alimento para o crepúsculo antes do anoitecer, dentro de si mesma. É como se fosse a consumação da satisfação de uma alma, que não se saceia com o quotidiano, nem com as frases já feitas, que são usadas por todos. Ela produz um efeito com as palavras: o de conduzir quem a lê na descoberta de si mesmo e do seu próprio caminho interior, levando-o na exploração do seu mesmo mundo de emoções, por vezes esquecido na penumbra interna.

A solidão está também presente, e o amor que não se corresponde, nem é atendido na súplica lançada por vezes em desespero. Ana fala de um amor terreno, de pessoa para pessoa, mas muitas vezes, também de um amor interior, de alma para alma, desejando a consumação, não no externo, mas no âmago do ser:

“De que vale

O sol

A lua e o céu,

Se o teu regaço

Não me embala os sonhos.

Que importância contêm

Todas as realidades

Se no teu rosto

Não se rasga um sorriso

E no meu as lágrimas

Teimam em rolar…”

Há lampejos de intensidade Outonal e Inverno nos seus poemas e todas as emoções associadas, bem como toda a beleza que se manifesta, através das dádivas da natureza, nestas estações do ano. As chuvas que teimam em cair, as folhas que caem, cobrindo os telhados, os aromas da terra, que inebriam os sentidos.

O silêncio permanece inalterado e sempre presente. Em toda a descrição o silêncio grita, manifesta-se e procura alcançar os ouvidos da sensibilidade humana. Há sempre palavras na sua escrita que se tornam inaudíveis e ocultas, por entre frases metafóricas, que ela usa para ornar, com beleza, o sentir. Há outras que são escutadas pelos escolhidos, por aqueles que se dão, no sentimento, à entrega do amor pleno. Este silêncio é uma musa para a sua escrita. Aquele que lhe permite o adormecimento, onde a inspiração renasce, o que lhe murmura as palavras que se escrevem, silenciosas, mudas e cansadas:

“O silêncio agasalha-me

Arde em todo o meu ser,

Relâmpagos de sobrevivência…

Todos os dias

Aprendo no silêncio

Novos ruídos do mundo,

Prossigo nas marcas visíveis

Ao meu coração que pula

Nos acordes de uma melodia!”

Em “O tacto das palavras” o destino confunde-se com aceitação. É revelado o segredo das noites ocultas, em que o sono teima em cair sobre as pálpebras, já cansadas. Permite-se a candura, de aceitar uma mão que nos embale e abrace, nas noites sem dormir, um corpo que nos traga uma calma, que permita o afastamento da solidão nocturna. Esse sentimento, antes do difícil adormecer, é o mesmo, que nos impulsiona nas desilusões aparentes da vida e que permite o cumprimento do destino:

“Leva-me no teu sono

Envolve-me nas tuas asas

Dá-me a forma do teu sorriso

Para que beba da tua calma

Empresta-me o teu destino

Uma onda mansa nos meus sonhos

Embala-me no teu berço

Para que a noite se afunde

Dá-me a tua mão

Para que enfim descanse…”

 Os seus poemas são um hino à vida e às palavras feitas poesia. São um hino ao sentimento entre os seres, sejam os amados especiais, ou qualquer outro ser que se cruze no nosso caminho de vida. São uma inspiração e uma chama de esperança, uma luz fresca de introspecção profunda. Exaltam o mais nobre e belo do sentimento humano: o amor. E descrevem-no em profunda exaltação sublime. Ana Coelho dá forma às metáforas, ao aroma que se mistura com os ventos, aos cânticos das gaivotas sobre os mares secretos, ao arder do medo na chama do coração, numa noite lenta de lua cheia.

Miríades de imagens estão presentes na sua poesia.

As brumas. Os crepúsculos. Os sonhos nos vértices do desconhecido. As lágrimas que tocam, nos céus, os pássaros que regressam da viagem. Os relâmpagos luminosos na noite negra. Os sentidos que desfilam por um corpo nu. Os olhares que se cegam nas noites sem dormir.

O agora está sempre presente. A vivência intensa do momento que se esvaí, fugaz. O “Carpe Diem” da vida breve. Simplesmente amar:

“Amar sem mais pensar!

Sentir as curvas do teu corpo

Encostadas em mim,

Dançar na luz das estrelas

Ver as suspensões a desvanecer.

Contemplar pétalas a caírem,

Lentamente… num poisar devagar,

Envoltas de um relógio sem tempo.

Viver unicamente o momento.”

Os “lábios que salgam o fogo” dão término ao seu livro, como se na derradeira imagem da fertilidade da terra pudessem todas as aves do céu fugir em liberdade, e no humano corpo a alma errante pudesse, finalmente, encontrar o amor.

 

07 de Setembro de 2010

Joma Sipe

 

 

 

 

 

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BEM VINDOS

 

De silêncio em silêncio descubro o verdadeiro som das palavras universais 

 

Com uma única palavra alcanço o mundo

AMOR

 

NUANCES DE UM SILÊNCIO A DOIS

 

 Um casal, dois escritores,

que num diálogo poético desfolham

ao longo das páginas sentimentos

muito próprios e íntimos,

como que em duelo de canetas,

produzindo escritos ímpares.

 
Livro de poesia

 

 

O TACTO DAS PALAVRAS

UM LIVRO DE EMOÇÕES INTIMISTAS MAS UNIVERSAL, CADA LEITOR VAI POR CERTO ENCONTRAR-SE NESTA PALAVRAS PALPAVÉIS

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 TU CÁ, TU LÁ

Antologia poética  de 15 autores

Organização de

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Os meus sonhos nunca dormem, sossegam somente por vagas horas quando as nuvens se encostam ao vento. Os meus pensamentos são acasos que me chegam em relâmpagos, caem no papel em obediência à mente que dita todas as palavras em impulsos do nada..

Último Poema

Quando o Inverno
se deitar no meu leito
e as flores cantarem aromas
pelos jardins em rosmaninho,
o som da minha voz
for o silêncio das minhas palavras
largadas pelas folhas velhas de papel…

Procurai
pelos cantos mudos da casa
os pedaços timbrados
das minhas emoções,
nelas podereis
tocar tudo o que fui,
a vida que vivi
os sonhos que levantei
toda a ilusão que nunca contei…

Não tenteis
buscar os meus momentos
encontrem somente
o vosso timbre
o sentir para lá da voz do poeta,
se assim as fixares
é porque também em vós
existe razão…sonhos e tempos
cobertos de luz!

Deixo-vos os meus traços
sem tempo em vagas horas
com eles fazei morada para todos,
assim a minha paz
será perpetuada nas brisas primaveris.

Porque no tempo
sois vós
o perpetuar da minha vida
da razão
que sempre moveu
todas as minhas entranhas
um toque para lá dos corpos
vestidos da essência materna
que a minha alma proclama
no som do olhar…

Será esta a verdade
pela qual sempre vivi,
aquela que em vós aprendi
a única palavra que alcança
o universo palpável
o amor
que colhi do vosso mundo!

Se algumas vezes
vós transmiti silêncio
foi para que pudessem escutar
os ruídos do mundo,
nele aprendessem a voar
com as vossas frágeis asas!




Dedicado aos meus filhos Cátia e Edgar
 

O meu Novembro

Eu não conto Primaveras
reúno Outonos
nascidos do Verão
que me embalaram o berço,
nutriram o meu desenvolver
me elevaram ao expoente
de ser a idade madura
com toda a ternura...

Desfio mais um Outono
no crepitar da lareira
aconchego mais um ano,
o ano transacto
com tantos pedaços…
Pêndulos dentro do olhar,
viragens e aprendizagens
acolhidas na leve forma
do meu caminhar…

É de Outono
que se veste a minha Primavera
nas margens
em que os poros fluem,
contagem crescente
de mais uma viagem
com a bagagem repleta de passado
rumo ao futuro a receber do hoje
a imensidão de um dia
eterno de gratidão!



 

 

 

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